Téo Fabi: arquétipo do europeu que migra aos monopostos americanos ou exceção?
A demissão do Sebastien Bourdais fez voltar as velhas e um tanto tolas discussões sobre a qualidade dos pilotos americanos e a suposta facilidade dos pilotos oriundos da Europa que vão para lá (por exemplo este post do Victor Martins).
A verdade como sempre é bem mais complexa e precisa levar em conta que bons pilotos nem sempre se adaptam a equipamentos muito diferentes (ao final de 99, Zanardi estava mais desesperado para se ver longe do carro da Williams que Sir Frank de se livrar dele) e de que como regra os pilotos de resultados discretos na F1 como Christian Fittipaldi que venceram nos EUA tiveram a oportunidade de correr com carros de ponta por lá (os números de Tarso Marques pela Dale Coyne não são melhores que seus pela Minardi).
Ao contrario do que muitos acreditam não existe nada que garanta que Rubens Barrichello ou Adrian Sutil seriam forças na IRL se mudassem para lá amanhã, basta perguntar ao Robert Doornbos que atualmente leva uma surra do seu companheiro pós-adolescente.
Como pequeno exercício resolvi observar a carreira de 5 pilotos de F1 que migraram para os EUA. Todos eles obtiveram algum destaque na Formula 1 foram vistos como promessas e/ou tiveram bons carros, mas ao mesmo tempo nenhum deles foi dono de grande sucesso, ou seja 5 Nick Heidfelds que em determinado momento se mudaram para os EUA.
Mark Blundell
F1
63Gps 3 pódios
Cart
81Gps 3 vitórias 5 pódios
Blundell é uma das inúmeras promessas do automobilismo inglês a não vingar na Formula 1. Sua grande oportunidade veio em 1995 quando substituiu Mansell na McLaren sem qualquer sucesso. Sua passagem de 5 temporadas pela Cart foi mais feliz sem dúvida, mas só encontrou sucesso mesmo em 97 no melhor ano da equipe PacWest (seu companheiro Mauricio Gugelmin venceu pela primeira vez naquele ano também) quando venceu por 3 vezes e chegou em terceiro outras duas e terminou a temporada num honroso 6º lugar. No resto do tempo foi um bom piloto do meio de pelotão sem grandes arrombos, mas constante.
Eddie Cheever
F1
132Gps 9 pódios
Cart
82Gps 4 pódios
Quando eu era pequeno, Cheever era “o” piloto americano da Formula 1. É dono de uma das carreiras mais longas entre os que nunca venceram na categoria permanecendo no grid ao longo de toda a década de 80. Seu melhor momento foi como segundo piloto de Alain Prost na Renault em 83. Em 90, Cheever foi correr em casa pela nova mais promissora equipe Chip Ganassi. Apesar de ter um bom carro nas mãos nunca foi muito competitivo nos 3 anos na equipe (seu companheiro Arie Lundyek certamente impressionava bem mais) e amargou depois 3 temporadas com carros piores. Cheever finalmente obteve sucesso em casa após a cisão dos monopostos americanos quando permaneceu na muito enfraquecida IRL inicial. Sendo um dos poucos pilotos conhecidos correndo por lá atraia bons patrocínios (e por conseqüência carros) e no meio de grids empobrecidos venceu 5 provas incluindo as 500 Milhas de Indianápolis de 98. Em 2006 tentou um último retorno a uma IRL mais forte com resultados constrangedores. Por ironia este piloto americano criado no automobilismo europeu é hoje associado quase exclusivamente pelos fãs locais com uma visão bem retrograda de como uma grande categoria de monopostos deveria ser gerida por lá. É lembrado em companhia de Billy Boat e Greg Ray e não Danny Sullivan ou Rick Mears.
Téo Fabi
F1
63 Gps 2 pódios 3 poles
Cart
118 Gps 5 vitórias 14 pódios 10 poles
Téo Fabi estreou sem grande sucesso na F1 em 82 e se mudou para os EUA em 83 quando foi eleito Rookie do Ano. Voltou para Europa logo depois e se revelou um bom leão de treino nos seus anos de Toleman/Benetton. Faltava lhe porem ser constante ao longo das provas apanhando das jovens promessas Gerhard Berger e Thierry Boutsen e terminou por voltar aos EUA onde certamente foi mais competitivo. Fabi é o exemplo perfeito da idéia clichê da transição, mas a mesma irregularidade que lhe custou uma carreira melhor na F1 era visível na Cart. A despeito de bons resultados ocasionais podia-se contar com Fabi bem distante da ponta da tabela ao fim da temporada.
Bruno Giacomelli
F1
69 Gps 1 pódio 1 pole
Cart
11Gps
Giacomelli é um destes jovens pilotos que aparecem com tudo e logo depois somem em meio a carros ruins. Quando obteve a pole position em Watkins Glen em 1980 era visto como uma grande promessa, ao final da temporada seguinte a Alfa Romeo abriu mão dos seus serviços e Giacomelli pouco fez nos seus últimos anos na categoria. Em 85 foi se arriscar nos EUA pela Patrick (equipe onde Emerson Fittipaldi obteve bastante sucesso). Não durou a temporada. Seu melhor resultado foi um 5º lugar.
Stefan Johansson
F1
103 Gps 12 pódios
Cart
74 Gps 4 pódios
Johansson é junto a Nick Heidfeld o recordista de pódios sem vitórias na Formula 1 e teve inclusive oportunidade na Ferrari e McLaren. Segundo a lógica de muitos tinha tudo para fazer bela carreira nos EUA, mas geralmente andava pelo meio do grid. Em 5 anos, obteve 4 3º lugares como melhores resultados e nunca terminou uma temporada entre os 10 melhores. No automobilismo americano se revelou um burocrata ainda maior que na Europa, mas se sairia bem melhor após trocar monopostos pelos GTs.
Voltando ao Bourdais que afinal ocasionou este post, é bom lembrar que alem de resultados fracos pela Toro Rosso, ele foi 2º em duas importantes provas de Endurance (Sebring e Le Mans). Fosse amigo do piloto francês lhe consolaria apontando que no meio de seus stints furiosos na madrugada de Le Mans andou muito mais que o trio Alonso/Hamilton/Raikonnen fez o ano inteiro. O automobilismo é sempre mais que a Formula 1.
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